ESTUPIDEZ por se permitir que se guarde armamento militar junto a áreas densamente povoadas.
ESTUPIDEZ por não se efectuar sequer um manuseamento cuidado e uma manutenção eficaz!
Dizem que a causa deste incidente foi o calor, mas ninguém acredita. Todos sabem que alguém fez asneira, mas claro que aqui a culpa morre solteira e ninguém se responsabiliza. Ao perguntarmos se o Ministro da defesa não se vai demitir, as pessoas riem, envergonhadas e desviam olhar… “aqui não se usa isso…” dizem. Não se usa!!!
Mas usa-se causar a morte a mais de uma centena de pessoas, usa-se causar o pânico entre milhares de pessoas, marcar as crianças (e não só…) com esta experiência traumática, desmembrar famílias… uma senhora dizia que perdeu o seu filho que transportava às costas na sua capulana. “Veio aquilo e tirou-mo das costas… assim…e fiquei sem ele…”. USA-SE!
Um dos funcionários do Centro saiu a correr para ir ter com a família e ver se estavam bem. Eu ainda disse: “mas vai onde, homem? Não saia daqui!” Mas ele tinha de ir ter com a sua família! É compreensível! Já não voltou. Foi atingido ainda antes de chegar a casa. A sua família não estava lá. Já tinham fugido sem saber para onde…
Porque o pior era isso mesmo. Não era uma guerra. Não era um ataque premeditado que as pessoas soubessem que estavam a atacar determinado local e pudessem fugir para outro. As armas estavam armazenadas e caíam dependendo do sítio para onde estavam viradas. Era uma espécie de roleta russa… E a incerteza de onde cairia a próxima e se explodiria ou não, era lancinante.
Agora centenas de pessoas procuram os seus familiares. Os 3 Hospitais de Maputo estão completamente caóticos, entre pessoas internadas, óbitos e pessoas numa busca desesperada pelos seus entes queridos. Dois funcionários do Centro só encontraram os filhos ontem. Como estavam na escola fugiram (a pé, claro) para Marracuene, outros para a costa do sol e só agora estavam a regressar.
E maior estupidez ainda é não se ter a capacidade de aprender com os erros cometidos. Esta foi a terceira vez que aconteceu um incidente deste género neste Paiol de Maputo, tendo, no entanto, sido a mais grave e que mais danos humanos e materiais causou. E nunca se fez nada para evitar que se voltasse a repetir. Ao responder a esta questão, o Senhor Ministro diz que desde Janeiro (data do 2º incidente) até aqui, “muito tem sido feito nesse sentido”, mas claro que não especifica exactamente o quê, muito simplesmente porque nada fizeram… Resta-nos aguardar que desta vez seja diferente, até mesmo porque como dizia um outro senhor, “o povo moçambicano é pacífico, mas também não abusem…”