08 October 2007

Mudámos de Centro

Passaram oito meses e finalmente surgiu a oportunidade de mudarmos de Centro, como havia sido planeado desde o início. Em princípio deveríamos ter trocado logo aos seis meses, ou seis meses e meio, mas entretanto a Irmã Paulina foi para Portugal, e era importante que eu permanecesse no Centro de Adultos, pois já estava integrada e iria facilitar a orientação e continuidade dos programas de reabilitação. E assim foi. A Irmã Paulina partiu para Portugal em Julho e nós mantivemo-nos nos trabalhos habituais. Confesso que por vezes cheguei a sentir-me um pouco sobrecarregada, mas isso também serviu para testar os meus limites e ajudou-me a crescer um pouco mais.
A Ir. Leonor chegou em Agosto para substituir a Irmã Paulina e chegou a altura de a apoiar e ajudar da melhor forma a integrar-se, mostrando-lhe os recursos do Centro, os programas de reabilitação, as ocupações dos utentes, as suas características e histórias pessoais, que também ajudam a explicar os seus comportamentos e necessidades.
Chegou a vez de tirarmos uns dias de férias, e no regresso pareceu-nos ser a altura certa para fazermos a transferência de Centros.
E esta, como todas as mudanças, trouxe alguns receios e uma certa insegurança, pois deixamos a nossa rotina para entrar num mundo totalmente diferente, que nos vai exigir posturas e atitudes completamente diferentes das que mantínhamos até agora.
E de facto assim é, pois tal como tinha sentido nas primeiras semanas (em Fevereiro quando ambas estivemos no Centro Infantil), é muito fácil gostar destas crianças. Elas cativam-nos de imediato. Basta olhá-las um segundo, observar as suas brincadeiras, os seus, gestos, os olhares de quem não pode falar… e até as suas traquinices! Basta-me chegar de manhã ao Centro e ouvi-los logo a gritar “Kistina, Kistina…” e pronto, quem é que resiste???
Com os adultos é diferente. Muitos deles, por não serem tão espontâneos, é preciso conhecê-los primeiro, falar com eles, escutá-los e observar as suas atitudes e reacções para sentirmos um carinho enorme que nos enche o coração.
Com o tempo, começamos a conhecê-los melhor e quando menos esperamos, alguém tem uma atitude, um gesto, uma palavra que nos surpreende totalmente e nos deixa completamente embevecidos. Ainda hoje um utente, que tem sempre uma expressão muito fechada e que se não o conhecermos pode até assustar-nos, ia no machibombo (os utentes adultos estão encarregados de tomar conta das crianças) com uma criança ao lado que com o trepidar do carro já começava a dormitar e quando reparei, ele estava a segurá-lo com todo o cuidado e ia-lhe fazendo festinhas na mão.
É preciso conhecer para entender a sensibilidade e preciosidade destas pessoas que me deixaram completamente rendida.
No início, quando fui para o Centro de Adultos, simpatizei logo com alguns utentes, aqueles que sorriem mais e mais se aproximam de nós, mas foram os outros, os mais reservados que mais me surpreenderam e maravilharam.
Não posso dizer que gosto de todos da mesma forma, mas posso afirmar que todos me marcaram (muito) de maneiras diferentes. E não passa nenhum dia em que eu não sinta necessidade de os ir ver, espreitar e cumprimentar para trocarmos um sorriso.
Durante este tempo aprendi muito (muitíssimo) e também ensinei algumas coisas, mais práticas, se assim se pode dizer. Como já havia dito, dei aulas de informática que entretanto foram interrompidas devido à avaria do autocarro e de Inglês, que também tiveram algumas “desistências” forçadas, mas permaneceram 3 alunos que se podiam deslocar ao Centro pelos seus próprios meios (um deles ainda me pergunta pelo menos duas vezes por dia – depende se me encontra mais ou menos vezes – se “hoje temos aula”.
Iniciei também com eles a encadernação de papel reciclado, o que me deu imenso gozo fazer, pois tive de pesquisar e fazer experiências para me recordar como se fazia e também para desafiar a minha imaginação e criatividade. Alguns ficaram muito giros e todos apreciaram muito – os utentes e quem nos visita. Vou fazer um livrinho de instruções para os próximos monitores e espero que os continuem a fazer com motivos ainda mais diversificados.
Iniciei também as aulas de cozinha pedagógica (teóricas e práticas) com a Marisa, o que irei continuar a fazer todas as 5as Feiras, e que me permitirá manter um contacto mais próximo com os meus amigos e matar algumas saudades.
Este novo desafio que se adivinha é ainda uma incógnita, mas espero conseguir entregar-me da mesma forma com que o fiz no Centro de Adultos, e pelo que já vi durante esta semana, assim será com certeza.