31 August 2007

As merecidas férias...

Ah pois é... quase 7 meses e já está na altura de tirarmos umas fériazinhas...

Este domingo eu e a Marisa vamos até Inhambane,







depois tencionamos subir um pouco mais até à Beira







e se possível chegar até Nampula Não sabemos se vamos ter tempo para tudo, mas vamos tentar.


Saímos daqui com o Padre João, da Consolata que vai levar os noviços até inhambane e aproveita para mostrar à sobrinha que chegou hoje de férias um pouco deste enorme país.
E nós, claro, aproveitámos a boleia!

As primeiras visitas


Estas foram as nossas companheiras de jornada durante o mês de Agosto!
Na foto vemos a Mariza (que foi ao Infantário da Matola uns dias e veio com este leve toque de bronzeado :) ); a Vera, eu e a Ana.
Foi um mês muito positivo, e que me ajudou muito a recarregar algumas baterias! Vieram com energia e ideias para dar e vender. Transformaram a nossa cozinha numa pequena fábrica de jogos didáticos para as crianças, adultos e até para as mamãs...
Obrigada meninas e cuidado com os congolotes...
:)

06 August 2007

Aldeia SOS

Começou no início deste mês o recenseamento da população moçambicana e para este projecto suspenderam as aulas em férias extraordinárias, pois são os alunos do ensino secundário que vão fazer as pesquisas casa a casa, o que neste terreno, há-de certamente ser algo, no mínimo hercúleo, ou então, os resultados ficarão muito aquém da realidade, que é o mais provável, mas a população anda super entusiasmada, como se fosse o acontecimento do século. Ainda hoje muitas crianças ficam sem registo porque os pais não têm dinheiro, ou simplesmente deixam passar muito tempo, por pura displicência e depois já têm de pagar uma multa muito superior e para a qual não têm capacidade para comportar.
Por este motivo, as crianças que vivem na Aldeia SOS ficaram sem ocupação para este mês, o que não estava dentro do programa e pediram-nos que os ocupássemos durante algum tempo. Como tínhamos o trabalho no Centro, ficou estipulado que iríamos lá às segundas e quartas-feiras das 14h30 às 16h30. São cerca de 150 crianças e jovens. Eu fiquei com o grupo dos adolescentes e a Marisa e a Irmã Alcina com os miúdos dos 10 aos 13 divididos em dois grupos e o Abel, um voluntário que também está aqui no CRPS ficou com as crianças mais novas.
Os miúdos são incríveis, com um sentido de humor fantástico e muita personalidade. Irreverentes, é certo, mas também isso lhes dá uma certa piada.
Na segunda feira fizemos dois jogos de confiança e falámos um pouco sobre Fé e na quarta, foi altura de falar sobre ecologia, mas desconfio que de pouco lhes serviu, pois além de os ter desclassificado a todos no jogo do ambiente que preparei, por estarem constantemente a tentar fazer batota… (mas de uma maneira descontraída, que na realidade até achei graça) e assim que lhes dei uns rebuçados que levava, muitos deles deitaram logo os papeis ao chão…apanhando-os em seguia, naturalmente!

Os orfanatos que perduram por aí…

Na semana passada fomos visitar um orfanato nos arredores de Maputo. Um orfanato com meninos como tantos outros, alguns doentes, outros com deformações físicas causadas, na sua grande maioria pela ausência de uma assistência médica competente ou até mesmo pela ausência de meios e recursos adequados. Uma grande parte das crianças que temos no CRPS também sofreu deste problema. Muitas delas não foram devidamente tratadas e, ou porque o parto foi demasiado prolongado, ou porque tiveram malária ou meningite e não tiveram tratamento imediato, ou até pela conhecida doença “icterícia”, que em Portugal é facilmente diagnosticada e tratada, aqui deixa sequelas indeléveis nas crianças, impedindo-as de prosseguirem com uma vida saudável e independente.
Ao chegarmos ao orfanato, ficámos admiradas com exterior, mas esta impressão depressa se desvaneceu assim que ultrapassámos o portão da frente. Ali mesmo ao lado corriam descalças na terra, algumas crianças com roupas esfarrapadas e imundas de tanto se rolarem no chão de terra negra. Até aqui tudo mais ou menos normal, até porque como diz a tal publicidade… é bom sujar-se!
Ao fundo avistamos um edifício escuro e enquanto nos aproximamos avistamos uma esteira com algumas crianças deitadas à sombra (provavelmente a dormir a cesta, pensámos). Continuamos a caminhar e a cada passo, os pormenores vão-se tornando mais perceptíveis e ganhando cada vez mais peso. À nossa volta correm crianças descalças e de fato roto em gritos estridentes. Nota-se que já estão bem habituadas a este ambiente. Mais à frente, um grupo de adolescentes jogam basebol muito compenetradas, certamente uma herança deixada por algum voluntário americano…
Parámos finalmente junto ao edifício e ao lado vimos o que já muitas vezes havíamos visto na televisão, mas que nunca nos tinha sobressaltado o coração de uma forma tão violenta, de tal forma que quase não conseguíamos respirar! Estavam deitadas na esteira três crianças e uma menina com cerca de 20 anos ou mais, todas elas com deficiências muito profundas. Quase não se conseguiam mexer devido às suas patologias e estavam com uma imensa falta de higiene e por este motivo, dezenas (não seriam centenas???) de moscas rodeavam-lhes os olhos, a boca e as roupas ensopadas em transpiração. Assim que nos aproximámos a senhora que estaria encarregada de cuidar deles enxotou as moscas, o que realçou ainda mais a dureza desta realidade em que vivem as crianças e o tamanho do seu sofrimento incessante e após este movimento misericordioso, permaneceu na sua letargia exasperante.
O responsável pelo orfanato recebeu-nos e foi-nos contando avidamente as histórias de cada criança, cada adolescente e até de cada adulto que passava, e notava-se verdadeiramente que este era o seu carisma e a sua vocação, mas uma formiga, por mais trabalhadora e bem intencionada que seja, não pode mudar o que está instituído há anos e a boa vontade aqui vale muito pouco quando a corrupção é a todos os níveis, e mesmo que se lhe tente fazer frente, é uma tarefa hercúlea com que muitos religiosos se debatem diariamente. Ou porque os funcionários não trabalham, ou porque maltratam as crianças e os negligenciam, ou até mesmo porque os bens que deveriam chegar para todos nunca chegam ao destino final, que são as crianças. Mas como mudar esta situação? Seria preciso estar de vigia junto a cada funcionário para nos certificarmos que as crianças receberiam realmente a alimentação de uma forma digna, com qualidade, ou pelo menos quantidade suficiente, mas muitas vezes só porque uma criança doente não consegue alimentar-se com a rapidez que lhe é exigida, é-lhe retirado o prato com a desculpa de que não quer comer… e este é só um dos exemplos com que nos deparamos nestes locais e que vai contribuindo gradualmente para a má nutrição das crianças, o seu aspecto descuidado, o enfraquecimento do seu sistema imunitário, e a sua morte iminente.
É necessário que se mudem as mentalidades, mas isso demora tanto tempo……. e entretanto estas crianças continuam a sofrer!
Algumas crianças, não do orfanato, mas que encontramos frequentemente por aí.