Por aqui, o Natal vive-se assim:

Trata-se de um blog que pretende retratar as escolhas, os caminhos... o livre arbítrio!
Passaram oito meses e finalmente surgiu a oportunidade de mudarmos de Centro, como havia sido planeado desde o início. Em princípio deveríamos ter trocado logo aos seis meses, ou seis meses e meio, mas entretanto a Irmã Paulina foi para Portugal, e era importante que eu permanecesse no Centro de Adultos, pois já estava integrada e iria facilitar a orientação e continuidade dos programas de reabilitação. E assim foi. A Irmã Paulina partiu para Portugal em Julho e nós mantivemo-nos nos trabalhos habituais. Confesso que por vezes cheguei a sentir-me um pouco sobrecarregada, mas isso também serviu para testar os meus limites e ajudou-me a crescer um pouco mais.
A Ir. Leonor chegou em Agosto para substituir a Irmã Paulina e chegou a altura de a apoiar e ajudar da melhor forma a integrar-se, mostrando-lhe os recursos do Centro, os programas de reabilitação, as ocupações dos utentes, as suas características e histórias pessoais, que também ajudam a explicar os seus comportamentos e necessidades.
Chegou a vez de tirarmos uns dias de férias, e no regresso pareceu-nos ser a altura certa para fazermos a transferência de Centros.
E esta, como todas as mudanças, trouxe alguns receios e uma certa insegurança, pois deixamos a nossa rotina para entrar num mundo totalmente diferente, que nos vai exigir posturas e atitudes completamente diferentes das que mantínhamos até agora.
E de facto assim é, pois tal como tinha sentido nas primeiras semanas (em Fevereiro quando ambas estivemos no Centro Infantil), é muito fácil gostar destas crianças. Elas cativam-nos de imediato. Basta olhá-las um segundo, observar as suas brincadeiras, os seus, gestos, os olhares de quem não pode falar… e até as suas traquinices! Basta-me chegar de manhã ao Centro e ouvi-los logo a gritar “Kistina, Kistina…” e pronto, quem é que resiste???
Com os adultos é diferente. Muitos deles, por não serem tão espontâneos, é preciso conhecê-los primeiro, falar com eles, escutá-los e observar as suas atitudes e reacções para sentirmos um carinho enorme que nos enche o coração.
Com o tempo, começamos a conhecê-los melhor e quando menos esperamos, alguém tem uma atitude, um gesto, uma palavra que nos surpreende totalmente e nos deixa completamente embevecidos. Ainda hoje um utente, que tem sempre uma expressão muito fechada e que se não o conhecermos pode até assustar-nos, ia no machibombo (os utentes adultos estão encarregados de tomar conta das crianças) com uma criança ao lado que com o trepidar do carro já começava a dormitar e quando reparei, ele estava a segurá-lo com todo o cuidado e ia-lhe fazendo festinhas na mão.
É preciso conhecer para entender a sensibilidade e preciosidade destas pessoas que me deixaram completamente rendida.
No início, quando fui para o Centro de Adultos, simpatizei logo com alguns utentes, aqueles que sorriem mais e mais se aproximam de nós, mas foram os outros, os mais reservados que mais me surpreenderam e maravilharam.
Não posso dizer que gosto de todos da mesma forma, mas posso afirmar que todos me marcaram (muito) de maneiras diferentes. E não passa nenhum dia em que eu não sinta necessidade de os ir ver, espreitar e cumprimentar para trocarmos um sorriso.
Durante este tempo aprendi muito (muitíssimo) e também ensinei algumas coisas, mais práticas, se assim se pode dizer. Como já havia dito, dei aulas de informática que entretanto foram interrompidas devido à avaria do autocarro e de Inglês, que também tiveram algumas “desistências” forçadas, mas permaneceram 3 alunos que se podiam deslocar ao Centro pelos seus próprios meios (um deles ainda me pergunta pelo menos duas vezes por dia – depende se me encontra mais ou menos vezes – se “hoje temos aula”.
Iniciei também com eles a encadernação de papel reciclado, o que me deu imenso gozo fazer, pois tive de pesquisar e fazer experiências para me recordar como se fazia e também para desafiar a minha imaginação e criatividade. Alguns ficaram muito giros e todos apreciaram muito – os utentes e quem nos visita. Vou fazer um livrinho de instruções para os próximos monitores e espero que os continuem a fazer com motivos ainda mais diversificados.
Iniciei também as aulas de cozinha pedagógica (teóricas e práticas) com a Marisa, o que irei continuar a fazer todas as 5as Feiras, e que me permitirá manter um contacto mais próximo com os meus amigos e matar algumas saudades.
Este novo desafio que se adivinha é ainda uma incógnita, mas espero conseguir entregar-me da mesma forma com que o fiz no Centro de Adultos, e pelo que já vi durante esta semana, assim será com certeza.
Moral da História: Os amigos nem sempre te conseguem levantar, mas fazem o possível para não te deixar caír!
Eis que de súbito surge uma raquete de Tenis pelo correio e finalmente, após quase 4 meses sem praticar esta bela modalidade, pude retomar e matar as muitas saudades que se vinham acumulando.
A Marisa fez-me companhia e lá fomos nós até ao Campo desportivo aqui do CRPS. Vamos ver se consigo motivá-la a acompanhar-me nesta minha paixão. Assim já vamos poder utilizar os campos de ténnis aqui de Maputo (foto).
Além desta surpresa vieram anexadas algumas amêndoas da páscoa, uns bombonsdeliciosos dos quais já só restam os papéis e um livro (este enviado pelos pspás).
Obrigada Cunhadinha linda, mano e claro, meus queridos papás!
Assim foi. É de facto um lugar paradisiaco, e conseguimos recarregar bem as baterias para continuar o trabalho aqui no CRPS com ainda mais energia e entusiasmo.
O que acham destas imagens?